Antes de relatar o tratamento da minha acalasia, vou expor algumas dicas que podem ser muito úteis para que tem essa doença.
Talvez essas dicas não façam muito sentido para quem não sofre deste problema. Ou ainda, nem todas as sensações e formas de alívio dos sintomas da acalasia são iguais para todos.
Então faça alguns testes, primeiro. Pode ser que funcione e te ajude a conviver melhor com este problema complicado.
Quando eu sabia que estava muito entalado, geralmente nas primeiras horas do dia depois de acordar, eu tentava fazer algumas coisas primeiro antes beber ou comer algo, para tentar não lembrar do problema.
Primeiro eu me vestia, depois eu arrumava as coisas na mochila e só depois começava a preparar a minha vitamina.
No meu caso, alimentos mais densos eram mais fáceis de descer para o estômago. Acho que uma vitamina bem encorpada, densa, fazia bastante pressão no EEI (esfíncter esofágica inferior) e eu acabava ficando menos tempo com o líquido retido no esôfago.
Mas não sei se isso funciona para todos. Então, como me ajudava um pouco, eu adorava e ainda adoro tomar vitaminas, pois me alimentam e não trazem tantas complicações e mal estar na hora de ingerir.
Mas mesmo assim, quando entalava de vez, e o alimento não descia de jeito nenhum, para não vomitar, eu tentava me acalmar e subia alguns degraus da escada de casa e depois descia correndo ou até mesmo pulando. Pode parecer loucura, mas me ajudou muitas vezes.
Porém, os pulos não podem ser muito altos, pois sentiria a comida ou a bebida na garganta e a sensação não era nada agradável. Além de correr o risco de engasgar e este alimento migrar para a traqueia e pulmões, podendo ocasionar problemas mais sérios, como a pneumonia por aspiração, alertada pelos médicos.
Acho que dando os meus pulos – literalmente -, no momento da descida e do contato com o chão, eu forçava a EEI abrir, pois o conteúdo no esôfago fazia ainda mais pressão. E funcionava, na maioria das vezes.
Eu sentia aquela angústia e sufocamento com a comida entalada, então dava uns pulinhos e quando a comida ou bebida descia era uma alegria!! Um alívio imediato, uma delícia.
Onde eu trabalho, o refeitório fica no 13º andar. Depois de almoçar, para descer para o 2º andar onde eu trabalho, eu, na maioria das vezes, ia pelas escadas. Ninguém usa as escadas mesmo! Eu podia descer dando os meus pulinhos, sem ninguém ver, e quando chegava no meu andar, já estava com o esôfago praticamente vazio. 😉
Acho que não contei ainda, mas minha acalasia estava no grau II. Pela leitura manométrica, o chefe da equipe médica chegou a esta conclusão e me contou. Tive muita sorte! Já li relatos de pessoas com acalasia com graus IV, V e agradeço muito por não ter chegado nesse ponto e nível de sofrimento e desespero.
O meu tratamento da acalasia, de certa forma foi bem rápido, graças a Deus, ao meu cunhado, à minha esposa, à família e a toda equipe médica que foram sempre muito atenciosos comigo. Tenho muita sorte!!
Uma vez determinado o diagnóstico e conseguido uma consulta com essa nova equipe médica (desculpe-me não revelar os nomes, pois não tenho autorização para isso), eu fui conversar com os médicos.
Fui muito bem atendido (realizei todas as consultas e procedimentos no Hospital do Servidor do Estado de São Paulo). O médico chefe, uma simpatia e extremamente competente, na primeira consulta já definiu todo roteiro do tratamento, conversando com o demais médicos e residentes locais.
Depois de avaliar todos os exames e nos dar uma aula sobre a doença, as complicações e detalhes, o médico nos disse (para mim e para minha esposa, sempre me acompanhando) que o tratamento a ser seguido seria uma cirurgia por videolaparoscopia.
Lá no consultório médico aprendi mais sobre a doença. Que tratava-se de uma complicação rara, sem cura, mas remediável e que afetava toda a estrutura neuromotora do esôfago e da EEI (esfíncter esofágica inferior), com a destruição dos neurônios motores da musculatura desta região.
Assim, o esôfago deixaria de realizar os movimentos peristálticos de forma coordenada, além da doença provocar a ausência de relaxamento da cardia, que é o músculo que age na EEI, após a deglutição impedindo a passagem do alimento ou líquido para o estômago.
Enfim, foi definida a cirurgia, que tem o nome um pouquinho grande: Cardiomiotomia à Heller com Fundoplicatura. Seria o tratamento mais recomendado, de acordo com minha idade, estado de saúde geral e perspectiva de melhora dos sintomas a curto e longo prazo.

A cirurgia, como explicada pelo médico, é realizada por videolaparoscopia, com cinco furos feitos na região abdominal para entrada das cânulas e insulflamento de ar. Depois, a grosso modo, é feito um corte na região da cardia (cardiomiotomia) pegando uma parte do esôfago e outra do estômago, relaxando assim toda a musculatura, abrindo a EEI para o livre trânsito de alimento e líquido. Finalmente então, é feito a fundoplicatura, onde o fundo do estômago “abraça” uma parte do esôfago, criando uma espécie de válvula anti-refluxo.
Confesso que fiquei bastante nervoso com a definição, mesmo já sabendo que o melhor caminho seria a cirurgia, já alertado pelo meu cunhado.
Mas não tem jeito e quanto mais fosse prorrogada a cirurgia, pior ficaria a situação com a acalasia progredindo, o esôfago dilatando e a qualidade de vida piorando radicalmente.
Entre os primeiros sintomas, ocorridos em meados de maio de 2018 e a definição do tratamento, em dezembro de 2018, passaram-se apenas sete meses. Pouco tempo, quando comparado com outras pessoas que levaram anos para serem diagnosticadas e tratadas.
Definida a cirurgia, começamos a agendar os exames pré-operatórios para levá-los ao anestesista do hospital. Exames tranquilos: um eletrocardiograma e um exame de sangue mais completo.
Ah, esqueci de mencionar que também fiz exames de sangue (sorologias) para Doença de Chagas, quando confirmada a acalasia. E felizmente, o resultado deu negativo!
A acalasia pode ser chagásica ou idiopática.
No primeiro caso, a doença de Chagas, ocasionada pela infecção parasitária do Trypanosoma Cruzi, destrói algumas células musculares do sistema digestivo, ocasionando a perda da função muscular com a consequente disfunção motora e dilatação de alguns órgãos, dentre eles o esôfago, trazendo a acalasia.
No segundo caso, de acordo com o médico, a causa do tipo idiopático da acalasia pode ser um problema de autoimunidade ou congênito, sendo este o meu caso.
Com os resultados “ok” dos exames pré-operatórios, marcamos a consulta com o anestesista do hospital, com o encaminhamento e pedido de urgência da equipe de cirurgia geral do hospital.
Na consulta com o anestesista, assinei todos os termos de responsabilidade e de consentimento para a cirurgia. O médico anestesista nos explicou todo o procedimento cirúrgico, indicando que este seria realizado sob anestesia geral com entubação.
Com a permissão do anestesista já cadastrada no sistema do hospital, pegamos os exames e agendamos o retorno, solicitado pela equipe de cirurgia geral.
Voltei ao hospital para, enfim, agendarmos a data da cirurgia. Depois de uma nova consulta com a equipe médica, ficou definida a cirurgia para o dia 17/01/2019, com internação hospitalar em 16/01/2019.
Até a chegada do dia da internação, confesso que precisei controlar o nervosismo, pois a todo momento vinham as preocupações e expectativas da cirurgia.
Nesse período era nítido também o nervosismo e a preocupação de minha esposa. Foram momentos de muita apreensão, mas sabíamos que daria tudo certo e que eu teria um enorme alívio dos sintomas da doença.
Os dias se passaram e com a preocupação, parecia que a comida, a bebida, tudo entalava ainda mais e ficavam parados no esôfago. Mas em breve tudo isso acabaria!
Boa noite! Eu tenho esse problema há 19 anos! Em 2001 senti o primeiro sintoma e vivo com isso até hoje. Qual a sua idade? Em qual cidade você mora? Um abraço!
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Olá, meu amigo. Tive o início do problema com 36 anos. Moro na Capital de São Paulo e fui diagnosticado e operado aqui mesmo. Fiz a cirurgia no Hospital do Servidor Estadual, pelo Iamspe. Tenha fé em Deus que pelo menos a operação você conseguirá e os sintomas serão aliviados. Farei mais dois posts, que ficaram faltando para ajudar as pessoas: um sobre os sintomas, e outro sobre onde encontrar ajuda (hospitais). Obrigado pelas suas palavras!! Tenha fé e a Acalásia será pelo menos aliviada com a cirurgia, e sua vida será muito melhor!!
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